Oh querida, quanto tempo te
escrevo sem retorno, ando exausto de ser frágil.
Pergunto-me se futuramente algo alem de cartas nos ligará?
Ando repetindo os mesmo versos
a meses, deixei o “eu te amo” em lápis, decides se deixa-o eterno a tinta. Imagino
que o entregador anda falho contigo, te encontrar também anda difícil pra ele?
Variei as flores, percebestes?
Os jasmins deixam as cartas com um aroma bom, já que não consigo mais sentir o
teu.
Estive mudando as coisas de
lugar se quer saber, a antiga cama findou-se, uma nova pus no lugar.
O armário pro lado direito
mudou-se, eu sei é estranho.
Desde tua ida (por enquanto
definitiva) que a data não me esqueço, as roupas deixadas doei pra quem
precisa, os perfumes quebrei para não mais teu cheiro sentir, passei a usar
roupas pretas, ainda lúcido findei por achar o amor feio, cheirando a mijo.
Hoje o acho-o livre.
Oh querida a dor da doença
mortal me domina também, mas ainda faltam cartas a serem escritas, ainda falta
tu ler e o convite me fazer.
Espero tua resposta
incansavelmente, semana passada até cansei, mas tomei um porre e esqueci.
Gosto de anotar as datas de
envio, mas mesmo assim esqueço-me. Só lembro a data da tua partida minha
querida.
O entregador de ontem era
novo, solicitei a mudança nos correios. Eles não me deram respostas, mas todo
mês é um entregador diferente. Engraçado falar entregador se a mim nada é
entregue, talvez ele me traga esperança quando a porta do sanatório bate. Só
entrego-lhe correspondências.
Corre na minha memória que teu
endereço é fixo, intriga-me a falta de resposta.
Hoje irei preparar mais 10
exemplares de cartas a ti pra serem enviadas ainda essa semana, corrija-me se
estiver errado mediante ao endereço: cemitério da paz, número 148, túmulo 23.
Marcelo C.
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